É o que tem feito o auditor do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, Vitor Pinho, que, entre um trabalho e outro, rabisca em poucos papéis palavras de acalento, que soam como vento em meio à tempestade.
Para os colegas de TCE MT, é um presente poder desfrutar de um talento como esse, em tempos difíceis, num contexto de tanta tristeza e luta.
“Aos poucos fomos descobrindo esse lado artístico do Pinho. Somos agraciados por esse dom quando mais precisamos. No meio do corre-corre do dia a dia, dos problemas, paramos para ler aqueles belíssimos poemas que realmente nos emocionam”, relata Carlos Pereira, também auditor do TCE/MT e presidente da Associação dos Auditores Públicos Externos do Estado (AUDIPE).
Pinho declara que o principal componente da poesia é a inspiração e o sentimento. “Eu encontro no dia a dia as palavras e rimas a paz e o equilíbrio que preciso para enfrentar o mundo lá fora. Quando eu menos espero, já estou com a ideia na cabeça e o lápis na mão”, disse ele, acrescentando ainda que “a poesia é uma forma de expressar um monte de coisa do coração em umas pequenas linhas, pra conquistar um só coração, uma só pessoa. É também uma forma de se sentir feliz, preenchido, de fazer parte da vida de alguém que você admira e quer bem”.
Pinho fala sobre um dos poemas escritos durante a quarentena, “O Sol do Sertão”. ” É uma mensagem do sertanejo pra nós. No sertão não se chora, do pouco se comemora”, finalizou.
O Sol do Sertão
Vem mais um dia
Que desafia
Mas é da vida, é do sertão
Ainda cedo
Espio sem medo
Sair o escuro, vir o clarão
Café já cheira
Tá na chaleira
Maria, traz aqui
Que é pra “mode” eu ir
Roçar a macaxeira
Os “menino” vão pra escola
Estudar pra ser “doutô”
E deixar de sentir a dor
Que eu sinto de não saber ler
A manhã passou
Meio-dia é boa hora
Sombra do cajueiro agora
Quintal de casa, pegar o de comer
A tarde é mais comprida
Sofrida, o Sol mais castiga
A água de beber é pouca
No açude, na boca
Não tem mais gado
Só tem o arado
E a lembrança
Dos dias de criança
Mas no sertão não se chora
Do pouco se comemora
Afinal, a noite vem vindo
O calor não se vai
Mas não tem o Sol tinindo
Rede armada, o sono chega
Antes de deitar, peço chuva, em segredo
Pra carregar todo esse meu medo
De que nunca se acabe essa horrenda seca
Vem mais um dia
Que desafia
Mas é da vida, é do sertão
Autor: Vitor Pinho